Imagine - Harry Styles - Café a Dois

Vou guardar os teus soluços mais delicados,

Teus olhos e teus casacos de fio.

Vou guardar os teus sorrisos apaixonados,

Teu jeitinho de sozinho sorrir, mesmo quando só faz frio.

Olhava para Harry que tomava seu café em silêncio, sua mão esquerda agora cheia de marcas e com a pele mostrando evidentemente sua idade segurava a minha, ainda me passava o mesmo sentimento de segurança, de amor, de felicidade… Sua aliança estava ali, como em todos esses 50 anos de casados, nenhuma vez a tirou ou fez por onde ser tirada.
Sempre um ótimo marido, companheiro, pai, amante… O melhor da vida é poder agora em paz me sentar com ele, na nossa casa, na beira do mar, tudo calmo e o vento nos acompanhando, me lembro de cada detalhe da nossa juventude, que com certeza foi bem aproveitada, dos nossos filhos pequenos correndo pelos corredores que agora são vazios, mas que em feriados e fins de semanas são ocupados por nossos seis netos.

Vou guardar os teus cabelos tão bagunçados,

À noitinha antes da gente ir dormir.

Vou guardar tuas vitórias e os teus pecados,

E as histórias que eu gostava de ouvir.

Naquelas tardes de sol, nas manhãs de sol.

Acho que é como sempre me falaram, o amor pode até não ser com aquele fogo, até por quê a nossa idade não permite, mas restou a mais forte amizade, os nossos mais loucos segredos, o prazer de ver nossos filhos formados, com filhos e felizes, a felicidade de saber que tudo que fizemos por um amor valeu a pena, o sentimento de que a vida fez sentindo, que minha missão dada por Deus foi completa.

- No que pensa, minha gatinha? - voltei meu olhar para meu marido, com cabelos brancos e as rugas no rosto, mas uma coisa nunca mudou, os seus olhos, sempre tão verdes e brilhantes, poucas foram as vezes que vi aquelas esmeraldas tristes.
- Deixa de ser brega - ri arrumando meu cabelo, o vento sempre o bagunçava, mas eu adorava.
- Um cara não pode mais usar carinhosos com sua namorada? - mordi a língua rindo e me inclinando para o beijar.
Harry estava nos seus completos 77 anos e eu com 72, mas nossas brincadeiras e momentos amorosos continuavam os mesmos, era engraçado… Engraçado como tudo era tão forte e quente quando se tratava de nós dois.
Pessoas de longe podiam olhar e falar “Que esquisito, aqueles dois velhotes se beijando” mas ali olhando para ele, eu podia ver o meu menino que subia num palco para matar milhares de adolescentes do coração.
- Um cara pode, mas um velho que nem você, ai já não sei - ele ajeitou seus cabelos, que agora eram bem lisos e brancos, mas ainda sim grandes, para atrás das orelhas e pegou seu chapéu em cima da mesa, fazendo assim os fios ficarem mais quietos.
- Ah, ta bom minha coroa - sua mão puxou a minha até seus lábios - eu te amo.

E eu vou guardar tuas manias e os teus errados,

Teus trejeitos e as covinhas ao rir.

Vou guardar os teus sossegos mais agitados,

Teu jeitinho de me fazer sorrir.

Mesmo quando não faz sol, não faz sol.

- Eu te amo - falei sincera, ele ajeitou meus cabelos, que continuavam pretos como sempre foram.
- Não me conformo em como fiquei velho tão rápido e você continua assim, tão linda - ele mexia na minha franja.
- Deve ser por ter mais produtos femininos nessa área - arqueei uma sobrancelha e ele riu, as covinhas tão lindas apareceram e me fizeram sorrir.
- Não é não, minha irmã usa as mesmas coisas e tem aquela cara de velha - bati de leve no seu braço.
- Sua irmã continua linda e ela é mais de dez anos mais velha que eu, cala a boca - ele mexeu nos lábios, sua mania desde novo, e olhou para o mar na nossa frente.
- Tenho saudades de correr como antes, poder te pegar no braço e levar para qualquer lugar, saudades de poder subir num palco cantar e dançar por duas horas sem cansar, de viajar e andar sem sentir dor nas costas… Mas, também amo essa paz que tenho em está ao seu lado.
- Eu também tenho saudades de muitas coisas, mas o importante é que não nos arrependemos de nada e conseguimos ter uma vida completa.
- É tão bom ver Henry, Tyler e Darcy felizes, não é? É como se fosse a minha própria felicidade - concordei com a cabeça.
- Sorte deles, ter um pai assim, tão bom - apertou minha mão e bebeu o resto do seu café.
- Sorte minha, ter achado essa mãe tão maravilhosa para eles… E essa mulher que vai está comigo até os meus ultimos dias, se ela quiser, é claro.
- Ah, Styles drama queen desde 1994 - ele gargalhou botando a xícara na mesa e se levantando, olhou para o mar mais um pouco e me ofereceu a mão para que eu pudesse levantar.
- O que dois velhos podem fazer depois do café a dois?
- Nós temos o infinito - o abracei pela cintura e ele passou o braço pelos meus ombros, descemos as escadas e começamos a andar na areia.
- Quando eu não lembrar de mais nada, nem do meu nome, eu sei que vou lembrar do meu amor por você - o olhei, ainda levantava o olhar por conta da sua altura.
- Espero que na outra vida, Deus nos permita ficar juntos… Não me vejo sem você - beijou meu nariz e me trouxe para mais perto por conta do frio.
- O que quer que eu faça para o jantar? - ele falou depois de um tempo.
- Será que podemos sair essa noite? Ter um encontro…
- Mas é claro, como se fosse a primeira vez.
- E ultima.
Ele segurou minha mão e me levou para a casa, onde tomamos banho juntos, com nossos corpos mudados, sem a beleza da juventude, seus cabelos brancos sendo lavados pelas minhas mãos e meus cabelos escuros sendo lavados pelas suas, os sorrisos mais desgastados, mas com o mesmo sentimento.
E eu podia o amar para o resto da vida, vivendo assim, nossa vida a dois.

E quando eu não lembrar de mais nada

Nem das rugas, nem dos anos

Nem dos nomes, e nem do frio

Vou querer te contar

Como foi o meu dia

E passear

Te dizer o que eu quero pro jantar

Descansar

Desse dom

De viver só pras lembranças

Por não ter mais nada pra guardar

Vou poder me sentar, enfim

E tomar esse café a dois

Pra nunca mais vivê-lo só depois